No Dia do Artista Plástico, Alison Santos fala sobre técnica do realismo.
Ele dá aulas em Varginha e defende que todos podem aprender a arte.
Samantha Silva Do G1 Sul de MinasTransformar a realidade em arte é o que faz o desenhista e pintor Alison Pereira dos Santos. Na mesa e nas paredes de seu estúdio em Varginha (MG) são exibidos retratos de personalidades e clientes do artista, e se não fosse a moldura da tela ou a textura do papel, a certeza era de estarmos observando uma fotografia. “A ideia é ser o mais fiel possível à realidade”, explica Alison sobre a técnica utilizada no desenho, chamada realismo. No Dia do Artista Plástico, comemorado nesta quinta-feira (8), ele falou sobre arte e sua crença de que todos são capazes de aprender a desenhar, mesmo que não tenham nascido para isso.
No dia 5 de abril de 2014, Alison postou em sua página na rede social um ‘retrato’ feito por ele do ator e diretor José Wilker, que havia morrido na madrugada do mesmo dia. A imagem, praticamente uma fotografia, chama a atenção de qualquer observador e foi um dos primeiros desenhos desenvolvidos pelo artista na técnica realista, como ele explica ao prestar a homenagem na internet.
Alison começou a tracejar no papel com 10 anos, e após fazer um curso de desenho para aprender o básico, foi desenvolvendo a técnica de desenhar pessoas sozinho, fazendo retratos de amigos, familiares e colegas de escola. Aos 13 anos já aceitava encomendas e vendia os desenhos, mas antes de se tornar um desenhista profissional, chegou a trabalhar até como mecânico e ser funcionário de fábrica.
“Foi com uns 18 anos que eu vi que não tinha jeito mesmo, que gostava de fazer aquilo e resolvi começar a me desenvolver profissionalmente”, explica. Foi assim que ele descobriu a técnica realista e investiu nisso. “Eu fui instintivamente para o realismo. Muita gente gosta [de comprar retratos], é bom comercialmente”, completa, ao justificar como a técnica o ajudou a viver da arte.
Em 2009, Alison vendeu tudo o que tinha e viajou para Portugal. Fixou residência temporária na Ilha da Madeira pelos três meses que o visto de turista permitia. “Foi muito bom. Lá todo mundo gosta muito de arte. Consegui vender 130 desenhos durante o período”, lembra. Foi durante essa estadia que Alison começou a dar aulas particulares de desenho.
Ao voltar para o Brasil, resolveu abrir uma escola e ensinar desenho baseado em um método diferente daquele em que é preciso ter o dom para se desenvolver, mas sim, que todos podem dar formas aos traços em uma tela. A escola funciona há três anos em Varginha, e de três alunos, hoje Alison soma cerca de 80 novos desenhistas. “[O método] tira todos os mitos de que você tem que ter dom, mas se você gostar, tiver a didática certa, disciplina, você aprende. Os alunos se assustam com o resultado, que é conquistado derrubando barreira por barreira”, explica. “É uma questão de paciência. E a gente tem paciência quando gosta [do que faz], independente do que se propôs a aprender”.
Em paralelo ao curso, o desenhista usa sua técnica para registrar a imagem de casais, famílias e celebridades em um quadro. Apesar de muitos fãs encomendarem telas das celebridades que admiram, Alison diz que a vontade das pessoas de eternizarem sua imagem em uma tela é maior. “Faço mais desenhos de namorados, noivos e famílias”, conta. Os formatos variam do retrato rápido, que leva cerca de 10 minutos e são desenhados com grafite sem tanta perfeição de detalhes quanto o realismo, caricaturas, até grandes telas pintadas a óleo ou feitas com o grafite.
Futuroda arte
Meio autodidata, foi observando o artista inglês Julian Beever em sua visita ao Brasil que Alison começou a desenvolver o desenho realista em três dimensões (3D), técnica que agora investe em sua empresa para propagandas publicitárias. “A anamorfose é uma técnica de distorção onde você inverte a lei da perspectiva. Para quem passa [pelo desenho], só vê uma mancha distorcida, mas na posição certa, a figura se forma”, conta Alison ao explicar das dificuldades de cálculos para o desenho em 3D.
Além disso, Alison agora tenta desenvolver o hiper-realismo, técnica que busca literalmente retratar a realidade em desenho. “A gente coloca cada ruga, cada fio de cabelo, e cada detalhe tem que ser planejado, não há como fazer espontaneamente. Então é extremamente trabalhoso”, conta. Ainda segundo ele, a ideia é realmente “confrontar” com a fotografia e cada obra pode levar até três meses para ser feita. “O desafio é mostrar que não é um desenho.”
Ao ser questionado sobre o futuro da arte, em meio a tanta tecnologia que substitui a técnica manual, Alison acredita que a tendência é o artista ser cada vez mais valorizado. “Há uma grande discussão sobre isso. A tecnologia tem cada vez mais cumprido atividades que antes eram feitas pelo homem. Mas nós estamos entrando em uma era conceitual, onde a percepção humana vai ser tornando cada vez mais valiosa. Não adianta o cara entender de todos os programas, de edição, se ele não tiver a criatividade. Então a tendência é o artista ser cada vez mais valorizado, porque ele tem essa percepção diferente do mundo e o computador nunca vai poder cumprir isso.”
Dia do Artista Plástico
A data é comemorada popularmente no Brasil em homenagem ao pintor Almeida Júnior, que nasceu no dia 8 de maio em Itu (SP). O pintor e desenhista viveu na segunda metade do século XIX e é considerado precursor da temática regionalista, em que retratava temas caipiras. Entre suas obras está “O Violeiro”, “O Derrubador Brasileiro” e “Caipira Picando Fumo”.