As técnicas de sombreamento que você aprendeu no artigo anterior são muito eficientes, mas para transmitir a inteireza das coisas de dentro para fora elas precisam ser complementadas por uma técnica especial de criação de profundidade.
O segredo para representar a profundidade é “dar volume”, também conhecido como modelar.
Dar volume é um modo de transmitir uma sensação visceral de massa ou volume.
Sem isso, as figuras darão a impressão de estar “usando” a profundidade como uma “maquiagem”, em vez de parecerem objetos materiais com substancia.
Exercício de volume 1: Maçã vermelhíssima
Para aproveitar ao máximo esse exercício, finja que você tem quatro anos de idade e acabou de achar um lápis vermelho.
Então ache uma maçã vermelha brilhante.
Coloque-a à sua frente, a uma distancia adequada, num lugar bem iluminado.
Imagine que você está fazendo um estoque de uma tinta dessa mesma cor em seu tinteiro imaginário… deixe que ele vá se enchendo de tinta até o vermelho parecer absolutamente sumarento e cheio de vida.
Agora pegue um lápis ou uma caneta vermelha e desenhe um ponto vermelho no papel.
Pense na maçã como substancia viva; com a cor vermelha, você está em busca do seu âmago.
Agora comece a “encher” a maçã com a tinta de dentro para fora.
Faça as partes mais vermelhas realmente vermelhas e faça com que as partes periféricas, que parecem não “conter” tanta cor, dêem essa impressão também.
Esse exercício lhe dá a experiência básica para a representação de volume.
Exercício de volume 2: Esculpir
Neste exercício procuramos a sensação de um escultor que modela argila.
Imagine, pois, que você é um escultor e já separou a quantidade aproximada de argila necessária para fazer o seu trabalho.
Agora você está dando forma a sua escultura pressionando a argila onde quer que haja uma concavidade, moldando, dando forma às curvas da figura.
Escolha um tema, de preferencia um ser animado (um cachorro, um gato, o marido, a esposa, um filho ou um amigo).
Desenhe a forma do tema que você escolheu usando a parte plana do crayon Conté preto, não a ponta como fizemos antes.
Onde a forma recua, pressione mais o crayon na página (produzindo uma sombra mais escura); e onde a forma avança, ficando mais próxima de você, levante levemente o crayon, apenas roçando na folha.
Imagine que você está “moldando” esse desenho.
Exercício de volume 3: Anatomia de uma maçã
Este é um exercício vinciano avançado com frutas, que pretende nos informar, cientificamente, o que há no núcleo de uma maçã e como essa massa se estrutura para dar forma à maçã.
Pegue três brilhantes e suculentas maçãs.
Pegue uma por uma e gire-as em sua mão, sentindo seu peso, textura e harmonia.
Observe sua cor como se olhasse através de uma lupa.
Perceba os padrões da superfície.
Em que cada maçã se diferencia das outras? Anote suas observações no caderno.
Note, então, os arcos de cada contorno.
Observe as sutis variações que fazem desta maçã única, diferente da “imagem da maçã” comum, que vem à sua mente quando você pensa em “maçã”.
Agora que você conhece bem suas maçãs, estamos prontos para a autopsia.
Chegou a hora de dissecar (ou seja, “fatiar”) as maçãs para examinar a estrutura interna.
Divida a maçã ao meio com um corte horizontal.
Corte-a em seguida verticalmente e depois transversalmente, para obter três perspectivas diferentes.
Disponha, então, os pedaços de maçã em um prato.
Coloque o prato sobre uma superfície e prepare-se para desenhar esse estudo do “âmago”.
Observe a fonte de luz.
Semicerre os olhos para avaliar os valores.
Observe como as superfícies criam diferentes “planos” para refletir a luz.
Agora você está pronto para desenhar sua natureza morta representando o âmago da maçã.
Depois de terminar esse desenho, desenhe uma maçã inteira.
Faça seu desenho refletir sua compreensão da maçã de dentro para fora.